19 julho 2019

A História de ARQUITAS

(…)
Platão bateu à porta, pediu para entrar. Trazia um livro, escondido. Entregou-o a Arquitas, o Hospitaleiro. Este recebeu os dois: o livro, com a forma desse tempo, e o sábio.
O livro era Margites, a comédia escrita por Homero.
- É o único exemplar - disse Platão -, entrego-to. Guarda-o como guardas a tua filha: com a vida!
Não explicou a razão de tanto segredo; não explicou a razão para não divulgar o livro mais procurado, a terceira obra-prima de Homero. Disse apenas:
- Não sou capaz de destruir o belo, mas não posso difundir. O belo corrompe o justo.

- Que não morra - disse ainda - , mas que não se multiplique. Que não se multiplique, mas que não morra!

Arquitas era exemplar na hospitalidade: não fez perguntas.
Guardou o livro no cofre, disse a Platão para descansar, ofereceu-lhe cama.
- Defenderei o livro como defendo a minha filha: só o darei a um homem. Antes procurava um grande homem agora procurarei dois. Escolherei um marido para uma mulher e um sábio para o livro.
Platão, depois de algum silêncio, murmurou:
- Se escolheres para marido da tua filha um sábio, entrega-lhe o livro. Um homem protege melhor dois tesouros do que um. Com mais responsabilidade fica mais forte.
Arquitas concordou (sem palavras) e deitaram-se cedo nessa noite.
Na outra manhã, Platão partiu e logo durante a tarde ouviram-se os cavalos dos bárbaros.
- Eles vêm à procura de tesouros! - gritava o povo, aterrorizado.
Arquitas era ingénuo. Confundia o seu ouro com o dos outros.
(…)

Gonçalo M. Tavares in Histórias Falsas

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