11 novembro 2018

Fale Apenas com uma Boa Finalidade

"Dá-se muita atenção à importância moral das nossas acções e dos seus efeitos. Os que procuram viver uma vida mais elevada passam também a compreender o poder moral das nossas palavras, tantas vezes esquecido.

Um dos sinais distintivos mais claros da vida moral é o discurso correcto. O aperfeiçoamento do nosso discurso é um dos princípios básicos de um programa espiritual autêntico.
Antes de mais nada, pense antes de falar para ter a certeza que fala com uma finalidade. O falatório vazio é um desrespeito perante os outros. A exposição inconsequente da sua intimidade é um desrespeito perante você mesmo. Inúmeras pessoas sentem-se impelidas a exteriorizar cada sensação, pensamento ou impressão passageira. Despejam ao acaso o conteúdo das suas mentes sem fazer caso das consequências. Isso é prática e moralmente perigoso. Se tagarelarmos sobre cada ideia que nos ocorre, seja pequena ou grande, corremos o risco de desperdiçar ideias que têm real valor no meio de um fluxo de trivialidades de uma conversa vazia.
O falar irreprimido é como um veículo descontrolado desviando-se de um lado para  o outro até caír numa vala.

Se for preciso, mantenha-se sobretudo em silêncio ou fale com moderação. O falar, em si, não é bom nem mau, mas o falar descuidado é tão comum que é necessário estar atento. Uma conversa frívola é uma conversa prejudicial. Além disso é indelicado ser uma pessoa tagarela.
participe de discussões quando s ocasiões sociais e profissionais o exigirem, mas cuide para que o espírito e o intento da discussão, assim como o conteúdo, mantenham o seu valor. A conversa fiada é uma actividade sedutora. Não se deixe envolver por ela.

Não é necessário limitar-se a assuntos elevados ou filosofar todo o tempo, mas fique atento para que o falatório comum não seja considerado uma discussão de alto nível. Nestes casos pode ter um efeito corrosivo no objectivo superior que escolheu. Quando falamos sobre frivolidades, a nossa atenção fica tomada por elas, tornando-nos frívolos. Tornamo-nos naquilo a que damos atenção.

Tornamo-nos mesquinhos quando nos envolvemos em conversas a respeito de outras pessoas. De modo especial, evite acusar, elogiar ou comparar pessoas.
Tente, sempre que possível, quando perceber que a conversa em torno de si descai para falatório fútil, trazer subtilmente a conversa de volta para assuntos mais construtivos. Se, contudo, estiver cercado por estranhos indiferentes, pode simplesmente manter-se calado.
Seja uma pessoa bem-humorada e não dispense uma gargalhada quando for caso disso, mas evite o tipo de riso desenfreado que se houve em salões de bar e que degenera facilmente em vulgaridade ou malevolência. Ria com, mas nunca ria de.
Se puder, evite sempre fazer promessas frívolas."

Epicteto in "A Arte de Saber Viver"

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