30 setembro 2018

Livro I - Júpiter e Io

(…)

Há um bosque num vale na Hemónia, que uma floresta
cortada a pique fecha de todos os lados: chama-se Tempe.
Por ele irrompe, de espumosas ondas, o Peneu, que brota
do sopé do Pinho. Pelo peso da sua queda, projecta névoas
de vapores ténues e em borrifos chuvisca sobre os cimos
do arvoredo, e o fragor molesta bem para lá da vizinhança.
esta é a casa, esta é a sede, este é o santuário do grande rio.
Residindo aqui, em gruta talhada nas fragas, estabelecia
as leis para as ondas e às ninfas que nas ondas habitam.
A este lugar chegaram primeiro os rios daquela região,
sem saber se deviam vir felicitar o pai ou confortá-lo:
Esperqueu, carregado de choupos, o irrequieto Enipeu,
o velho Apídano, e o tranquilo Anfriso, e o Eante;
depois, outros rios, que, por onde o ímpeto os empurra,
levam lá abaixo ao mar as águas, exaustas das errâncias.
Só Ínaco está ausente. Recolhido no fundo da sua gruta,
engrossa as águas com o pranto: digno de dó, chora Io,
a sua filha, como se perdida. Não se sabe se ainda está viva,
se está entre os Manes.Não a achando em parte alguma,
julga que já não vive mais, e receia o pior no seu coração.
(…)
Ovídeo in Metamorfoses

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