04 janeiro 2015

O Vinho


Resplandece no bronze de Homero o teu nome,

Negro vinho alegrando o coração do homem.


Há séculos e séculos vais de mão em mão

desde o vaso do grego ao corno do teutão.


Na aurora já existias. E às gerações

Deste-lhes no caminho o fogo e os leões.


Junto àquele outro rio de noites e de dias

Corre o teu, celebrando amigos e alegrias,


Vinho, como um Eufrates antigo e profundo,

Irás fluindo ao longo da história do mundo.


Do teu vivo cristal nossos olhos têm visto

A metáfora rubra do sangue de Cristo.


E nos arrebatados versos do sufi

Tu és a cimitarra, a rosa e o rubi.


Que os outros no teu Letes bebam esquecimento;

Procuro em ti as festas de um fervor sedento.


Sésamo com o qual antigas noites abro

E na mais dura treva oferenda, candelabro.


Vinho de mútuo amor ou da dura peleja,

Talvez um dia eu própria te chame. Assim seja.


Jorge Luís Borges in Obras Completas Vol. II - 1952-1972

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