Resplandece no bronze de Homero o teu nome,
Negro vinho alegrando o coração do homem.
Há séculos e séculos vais de mão em mão
desde o vaso do grego ao corno do teutão.
Na aurora já existias. E às gerações
Deste-lhes no caminho o fogo e os leões.
Junto àquele outro rio de noites e de dias
Corre o teu, celebrando amigos e alegrias,
Vinho, como um Eufrates antigo e profundo,
Irás fluindo ao longo da história do mundo.
Do teu vivo cristal nossos olhos têm visto
A metáfora rubra do sangue de Cristo.
E nos arrebatados versos do sufi
Tu és a cimitarra, a rosa e o rubi.
Que os outros no teu Letes bebam esquecimento;
Procuro em ti as festas de um fervor sedento.
Sésamo com o qual antigas noites abro
E na mais dura treva oferenda, candelabro.
Vinho de mútuo amor ou da dura peleja,
Talvez um dia eu própria te chame. Assim seja.
Jorge Luís Borges in Obras Completas Vol. II - 1952-1972
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