09 abril 2014

Aniversário

Nasceu Elenice.
Quem a visse desafiando a solidão daquele instante
saberia que não era bem a vida que ali nascia
mas a amiga germinando
como germina o sol do milharal
na gravidez da espiga.

Ela chegou.
E mesmo que não visse era esperada
como a fome espera a mesa posta
o linho, a porcelana, o pão e o vinho
a caça arisca da safra que apenas se semeia.
Como se o amor, antes de existir, a amasse
e, dentro dele, mesmo que tormenta, adivinhasse
um ser que se constrói de luas cheias.

A lua do sorriso
que mesmo quando míngua e some
nos olhos do Oriente é lua ainda
e brilha
como brilha a lua em sua face oculta.
Lua de quem se engravida
de luz ou filho para ser crescente
e, cheia novamente, encher de lua nova o céu da gente.

Lua que esplende
mesmo que não haja mais sertões por perto,
nem o campo e suas flores, nem o verde e as campinas
mesmo que rude cimento ou chão fluorescente a apague.
Lua elenice de prata
mesmo que meu coração não ame,
mesmo que seja escuro o mar que vejo à beira-mar de Olinda.
Mesmo assim, lua de carinho.

Garibaldi Otávio in O Girassol

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