27 março 2014

Verdes

A Pompéia campos.
Do alto da Sé de Olinda, lá onde o sol cega o céu,
os verdes que ali se vê ninguém mais vê. São verdes de cada um,
verdes disfarçados de cada sombra sentimental
- metade azul quando o coraçõa desassossega
ou quase prata quando se enfeita de paixão na outra metade.

Verdes de cada ouro do altar das tardes: às duas, as mangueiras;
às três, jaqueiras e pitombeiras; às quatro, as cajazeiras; às cinco,
canaviais imensos,
nítidos sabiás.

Verde mar às vezes, às vezes varandas e colinas altas,
cigarras sonolentas, acres muros de cal,
tintos almoços terminados,
quintais dormindo.

Um só verde ao meio-dia,
quando a flauta de Delano canta os seus pincéis;
quando o dia se escancara apenas para ver, no prumo,
cometas de João Câmara,
incandescências de Zé Cláudio,
formas bruxas de Abelardo
e, lá embaixo, o Recife como um só Renato Campos via.

Um só verde ao meio-dia
quando o sol se encanta ou se extasia com o que Carlos Pena viu
e João Cabral desviu.
Quando o mar-verde boi no cocho do Verão-lambe o sal da poesia,
cansaços de Alceu, peixes azuis, fantasias
de que nunca se viu maravilha tanta.

Garibaldi Otávio in O Girassol (Cepe Editora - Brasil)

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