Enquanto eu vir o sol luzir as folhas
E sentir toda a brisa nos cabelos
Não quererei mais nada.
Que me pode o Destino conceder
Melhor que o lapso sensual da vida
Entre ignorâncias destas?
Pomos a dúvida onde há rosas. Damos
Quase todo o sentido a entendê-lo
E ignoramos, pensantes.
Estranha a nós a natureza extensa
Campos ondula, flores abre, frutos
Pendura, e a morte chega.
Terei razão, se a alguém razão é dada,
Quando me a morte conturbar a mente
E já não veja mais,
Que à razão de saber por que vivemos
Nós nem a achamos nem achar se deve,
Impropícia e profunda.
Que, procurando, achara o abismo em tudo
E a dúvida em si mesmo.
Ricardo Reis in Poesia dos Outros Eus
Sem comentários:
Enviar um comentário