16 setembro 2013

O Alquimista

Lento na aurora, um jovem desgastado
Por longas reflexões e por avaras
Vigílias considera ensimesmado
Insones alambiques e alguidares.

Sabe que o oiro, esse Proteu, desfecha
Golpes no acaso, tal como o destino;
Sabe que está na poeira do caminho,
Está no arco, no braço e está na flecha.

Nessa escura visão de ser um ser secreto
Que se oculta nos astros e no lodo,
Leteja o outro sonho de que tudo
É água, como viu Tales de Mileto.

Ainda há outra visão; a de um eterno
Deus cuja ubíqua face é cada coisa,
Explicada plo geométrico Espinosa
Num livro mais difícil que o Averno...

Entre os vastos confins orientais
Do azul empalidecem os planetas
E o alquimista pensa nas secretas
Leis que ligam os planetas e metais.

Enquanto crê tocar nesse momento
O oiro que irá matar a própria Morte.
Mas Deus, que sabe de alquimia, torna-o
Ninguém, poeira, nada, esquecimento.

Jorge Luís Borges in II - Obras Completas 1952-1972

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