Virá como vem a viração
ou a viragem da maré e a lua nova
virá como aquele espaço
onde o pássaro se diz espaço e onde se escreve
a sua suave melancolia do crepúsculo.
Virá como a fala sem fala que é a fala
com que Deus se exprime e com que Deus
se cala. Virá como essa grande interrogação
essa presença ausência
de haver Deus e não haver.
Virá como a perdida e sempre repetida
revelação ou como íntimo eco
do silêncio infinito. Virá
como parte do todo e música do mundo.
Virá como letra desconhecida
do alfabeto que não tem
as letras todas. Virá como essa letra
de não se sabe quem.
Virá como
ninguém.
Talvez então a terra trema.
Virá como vem
o poema.
Manuel Alegre in Nada está escrito
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