28 junho 2013

Um Poeta do Séc: XIII

Os rascunhos cruéis volta a olhar
Do primeiro soneto inominado,
A página em que tinha misturado
As quadras e os tercetos pra emendar.

Lima com lenta pluma os seus rigores
E detém-se. Talvez tenha chegado
Do porvir e do seu horror sagrado
De rouxinóis remotos uns rumores.

Sentiu alguém estaria a acompanhá-lo
E que o arcano, o incrível Apolo
Lhe tinha revelado algum arquétipo,

Um ávido cristal que prenderia
A noite quando fecha ou abre o dia:
Dédalo, labirinto, enigma. Édipo?

Jorge Luís Borges in Obras Completas

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