25 maio 2013

enfim o sossego.

nos conventos de são francisco ainda se movem
os sinos ao amanhecer,
e a voz imperceptível de quem canta
entre os altos muros,
cobertos de musgos, heras
e,             de longe em longe, uma flor vermelha,
uma flor amarela,
intocáveis.

também aí estive,                 de inverno a inverno,
noite adiante nas celas de martírio e oração,
inclinado sobre os textos antigos,
compondo as odes futuras, exercícios de sofrimento,
cântigos de destruição do mundo!

posso imaginar quem canta agora,
ao amanhecer,
imóvel sobre os degraus das pedras
gastas,
junto à muralha e sob as oliveiras,
ou no pátio interior          onde o brilho de judas
jamais se apagará;

enfim o sossego.

tocam sempre os sinos,
os meus irmãos loucos recitam os salmos de terror e
devoram o sangue nos altares
enquanto      frementes e belas
as virgens aguardam,
abençoadas pelo sinal dos meus dedos
pelo leve movimento dos meus lábios
pelo olhar impenetrável de jeremias,         o criador.

José Agostinho Baptista in Biografia

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