14 março 2013

Um Ponto

Um ponto - talvez um centro
em permanência de tranquilidade
para a noite inteira. Um ponto
extremo, interno. Um pequeníssimo ponto
invulnerável
de estabilidade total
- nascido como? - fruto do espaço limpo,
de aberta aderência nua ao ar,
de constância livre, desocupada,
do descanso de ser até ao fundo simples,
de completa entrega?

Um ponto nu inabitado branco
de intocável serenidade,
fixo como um nervo e imponderável,
de fim inicial,
ponto de respiração,
clareira de estar,
abertura central viva,
praia de ser e nada
- mas apenas um ponto, um puro ponto
contra a noite inteira,
contra o frio,
contra a destruição.

 Ponto de união
de paz coextensa à noite,
opaco e diáfano nó
do desenlace perfeito.

Nó de água
da água mais nua.
Ninho interno do espaço.
Pequena lua essencial
num horizonte de segura paz.

Pronto, por ti descanso,
certeza do mundo e de mim
em ti, dentro da noite,
atinjo o equilibrio actual e puro.
Pronto, antes do início.
de ti a ti, em mim.
pulsação lisa e leve,
suave motor da terra,
a pacífica respiração do oásis.

Pronto
de universo fixado
onde atingi a consciência dócil
de permanecer entregue,
plenitude abrigada
na navegação nocturno.

Um ponto vazio,
plenamente vazio.

António Ramos Rosa in Antologia Poética

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