pendem para o real, isto é, para a sensação
que o corpo experimenta ao sacudir de si o
espírito, mergulhado na vida. Para todos
os lados, as cores vivas do verão definem
árvores, campos, caminhos e casas. O que se
ouve esvazia-se da origem humana: puros
ruídos que as palavras não definem, embora
o vento as reúna num som único.
O caso é simples - se retirarmos à
frase a filosofia que a corrompe. Os olhos
é que importam para a compreensão do
que está por dentro das palavras. Uma imagem
nunca se reduz ao plano só da abstracção
poética. Entra para dentro da alma com
o seu peso concreto; e a memória con-
fere-lhe a espesura do tempo.
No princípio da tarde, com o calor, as
janelas estão fechadas. Quase não há sombras.
Junto ao ribeiro, os ramos inclinam-se
para a água, vencidos pelo sono. A harmonia
das coisas resulta destas coincidências. (se não fosse
isso, quem se preocuparia com o destino de
umas águas paradas, arrastando
uma inércia de estrofe?…)
Nuno Júdice in Poesia Reunida 1967-2000
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