22 fevereiro 2013

Soneto do Vinho

Em que reino, em que século, sob que silenciosa
Conjugação astral, em que secreto dia
Que o mármore não salvou, surgiu a valorosa
Ideia singular de inventar a alegria?
Com Outonos dourados a inventaram. O vinho
Vai fluindo vermelho pelas gerações
Como o rio do tempo e no Árduo caminho
Oferece-nos a música, o fogo, os leões.
Na noite jubilosa ou na jornada adversa
Ele exalta a alegria ou suaviza o espanto
E o ditirambo novo que agora lhe canto
Outrora lhe cantaram o árabe e o persa.
Vinho, ensina-me a arte de ver a minha história
Como se ela já fosse cinza na memória.

Jorge Luís Borges in Obras Completas 1952-1972 

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