20 fevereiro 2013

O Sentido Interior

"Nenhum dos vossos sábios resolveu esta simples indução de que a curva é a lei dos mundos materiais, e a recta a dos mundos espirituais; uma, a teoria das criações finitas, a outra, a teoria do infinito". 

Quem assim discorre, de resto com o desmentido de intelectos e oratórios, é Serafita, criatura misteriosa que inculca os seres humanos ao amor da criação; Serafita, uma das raras confidências de Balzac, que sintetiza o adeus do génio a tudo o que foi a inspiração decepcionante e perturbada.
Serafita tem, para Vieira da Silva, um significado. Uma das suas têmperas, executada em 1962, chama-se assim. Daqui podemos partir para o conceito de que a obra de Vieira da Silva é um longo amadurecimento para a virtude do silêncio e da solidão.
Falar em silêncio e solidão, num mundo tão agitado por correntes controvertidas, parece uma provocação. Assim é. Toda a condição do artista é uma provocação, porque utiliza o cerco que lhe faz a palavra - a palavra que cultiva as imagens e simula poderes.

Agustina Bessa-Luís in Longos Dias têm Cem Anos

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