O Fernando era assim, tinha sempre mil planos, mil ideias, esboços e, realmente, muitos não chegava a concretizar. O seu espírito, tantas vezes quase frágil, perdia-se na amargura do seu desassossego interior. Pessoa diz também "pertencer à seita dos adiistas" e ser autenticamente futurista no sentido de deixar tudo para amanhã". Num texto inédito de 1979, em inglês (publicado na revista História, de O Jornal), mais "rules of life" (regras de vida) vão surgindo (resumo):
1 - Faça o menos possível de confidências. Melhor não as fazer, mas, se fizer alguma, faça com que sejam falsas ou vagas.
2 - Sonhe tão pouco quanto possível, excepto quando o objectivo directo do sonho seja um poema ou produto literário. Estude e trabalhe.
3 - Tente e seja tão sóbrio quanto possível, antecipando a sobriedade do corpo com a sobriedade do espírito.
4 - Seja agradável apenas para agradar, e não para abrir a sua mente ou discutir abertamente com aqueles que estão presos à vida interior do espírito.
5 - Cultive a concentração tempere a vontade, torne-se uma força ao pensar de forma tão pessoal quanto possível, que na realidade você é uma força.
6 - Considere quão poucos são os amigos reais que tem, porque poucas pessoas estão aptas a ser amigas de alguém. Tente seduzir pelo conteúdo do seu silêncio.
7 - Aprenda a ser expedito nas pequenas coisas, nas coisas usuais da vida mundana, da vida em casa, da maneira que elas não o afastem de você.
8 - Organize a sua vida como um trabalho literário, tornando-a tão única quanto possível.
9 - Mate o assassino.
Aos poucos conforma-se com o seu destino. "Nunca fiz senão sonhar. Tem sido esse, e esse apenas, o sentido da minha vida"; e por isso, "invejo a todas as pessoas o não serem eu". No fundo, é "todas as coisas, embora o não queira", acomodado "à série de desastres que define a minha vida." "Nisto, talvez, consiste a minha tragédia, e a comédia dela". Em resumo, "nada fui, nada ousei e nada fiz".
José Paulo Cavalcanti Filho in "Fernando Pessoa uma quase autobiografia"
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