07 julho 2012

Outra Vida

Outra vida não concebem os deuses.
Dourados templos;
douradas naves; o altar em que perecemos -
ares de vago incenso apaziguam a febre, sobem devagar,
mas tumultuosamente.

Sombras vi na locomoção do tempo.
Vai-se de uma véspera às horas mais altas.
Em frente -
ouve-se como um eco, muito cedo.

Chega-se ao fim quando tudo se cala.
Fecham-se as cancelas, os lábios.
Fechamo-nos no ocaso das rosas, não florimos com o
medo.
Um sonho de água atravessará o mármore, as galerias do
sangue -
consumai o sacrifício.

Que seja dança,
salões de magia onde a mágoa não perdura.
Um vinho incandescente.
Remos, sinais de alegria, nenhuma dor no intervalo das
luas.

Eu cantei as tempestades, o presságio dos ventos.
Eles arremessaram os dardos,
flechas que se habituam ao tempo e ao coração -

assim emudecem os astros na grande noite do norte e das montanhas -

assim estremece o peito, a morada de um homem.

Se o lançarem às vagas ele desfolhar-se-á vivamente.

José Agostinho Baptista in Biografia

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