13 julho 2012

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Alguém teme que transborde a foz do dia,
não por a luz se decompor
ante um apelo agudo
e abater o verde e as dunas resistentes,

mas porque súbitos se alagaram olhares
a minar declives onde antes se abrigavam.

Resta soletrar e prender palavras
que se vão dispondo para nós,
por si próprias, não se sabe em que rosto,
com tinta passageira, a voz em sangue.

E as árvores invertem-se e afastam-se:
a quem as for seguindo
doem as raízes forçadas a arrancar-se
na fuga ao chão resvaladio
da clareira decepada pelo vórtice

que fila o cerne, as oprime e arrasta
do seu aroma espesso até ao grifo afiado
que as una e solta para um total nulo.

José Bento in Sitios

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