A verdade é semelhante a uma adolescente 
vibrante, flexível, em radiosa sombra. 
Quando fala é a noite translúcida no mar 
e a esfera germinal e os anéis de água. 
Um apelo suave obstinado se adivinha. 
Ela dorme tão perfeitamente despertada 
que em si a verdade é o vazio. Ela aspira 
à cegueira, ao elipse, à travessia 
dos espelhos até ao último astro. Ela sabe 
que o muro está em si. Ela é a sede 
e o sopro, a falha e a sombra fascinante. 
Ela funda uma arquitectura volante 
em suspensas superfícies ondulantes. 
Ela é a que solicita e separa, delimita 
e dissemina as sílabas solidárias. 
António Ramos Rosa in Antologia Poética
 
 
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