"A persuasão de que a vida tem uma finalidade está enraizada em todas as fibras do homem, é uma propriedade da substância humana. Os homens livres dão a esta finalidade muitos nomes, e sobre a sua natureza muito se debruçam e discutem; mas para nós a questão é mais simples.
Agora e aqui, a nossa finalidade é chegar à Primavera. Neste momento, nada mais nos preocupa. Por detrás desta meta, neste momento, não há outra meta. De manhã, quando, em fila na Praça da Chamada, esperamos durante um tempo interminável a hora de partir para o trabalho, e cada sopro de vento penetra por debaixo das nossas roupas e corre em arrepios violentos pelos nossos corpos sem defesa, e tudo em volta está cinzento, e nós próprios estamos cinzentos; de manhã, ainda antes do dia chegar, todos observamos o céu do lado do Oriente para espiar os primeiros indícios da estação amena, e o nascer do Sol é todos os dias comentado: hoje foi um pouco mais cedo do que ontem; hoje está um pouco mais de calor do que ontem; dentro de dois meses, dentro de um mês, o frio dar-nos-à tréguas, e teremos um inimigo a menos.
Hoje pela primeira vez o Sol nasceu vivo e nítido por cima do horizonte lamacento. É um sol polaco, frio, branco e longínquo, e não consegue aquecer para além da epiderme; mas, quando se libertou das últimas neblinas, um murmúrio percorreu a massa descorada que somos, e quando eu também senti a tepidez através da roupa, compreendi como se deve adorar o Sol."
Primo Levi in Se Isto é um Homem
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