"A linguagem mascara o pensamento. E tanto assim que da forma exterior da roupa não se pode deduzir a forma do pensamento mascarado; porque a forma exterior da roupa é concebida, não para deixar reconhecer a forma do corpo, mas para fins inteiramente diferentes"
Wittgenstein
A relação entre pensamento e linguagem é apresentada como sendo idêntica à existente entre a máscara e o seu portador, porque "a linguagem mascara o pensamento", e a máscara não tem como finalidade ser instância de reconhecimento do pensamento o qual, supostamente, está na origem da máscara, ou seja, da linguagem. A consequência mais imediata da compreensão da linguagem como máscara é uma certa autonomização da linguagem, uma libertação das proposições de uma relação de dependência e subserviência relativamente ao pensamento. Autonomizar a linguagem, significa autonomizar a principal força expressiva do homem, isto é, significa autonomizar a máscara do seu portador: neste caso a máscara do pensamento mascarado, a vestimenta daquele que a veste. Para tornar mais clara a compreensão da máscara que é a linguagem, a qual não se destina a ser simples expressão do pensamento, Wittgenstein utiliza uma outra imagem: tal como a máscara, "a forma exterior da roupa não é concebida para deixar reconhecer a forma do corpo". Logo, a máscara é uma forma exterior não concebida para ser um acesso ao pensamento, para ser o momento de reconhecimento do pensamento, mas, tal como a roupa, serve "fins inteiramente diferentes".
Esta imagem da relação entre linguagem e pensamento como análoga à relação entre roupa e corpo pode ter dois sentidos: primeiro a roupa é um elemento exterior que serve simplesmente para ocultar, dissimular, encobrir ou esconder o corpo; o segundo, é o modo como o corpo que a veste tem de se exprimir, havendo uma espécie de relação de adequação, afinidade e conveniência, entre o corpo e a roupa que veste. Uma máscara também pode ter estes dois sentidos: serve para esconder um rosto, para ocultar, dissimular, encobrir, esconder, mas, se se pensar em termos teatrais, a máscara é uma espécie de operador estético que permite a passagem, transformação e metamorfose do actor no seu personagem, a máscara é a condição da possibilidade da existência da personagem enquanto tal.
A imagem teatral pode introduzir uma espécie de preconceito, de falsidade, de mentira e engano, em que se defenderia que a roupa só serve para esconder o corpo. Mas este não é o seu único alcance, porque a relação que se tem com o corpo mostra a roupa enquanto elemento expressivo e simbólico: a nudez é, de algum modo, inconveniente ao corpo porque não pode exprimir esse corpo, a roupa que se veste não deixa reconhecer o corpo, mas simboliza e expressa o corpo."
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