Ao Germano
Caem co'a alma as aves intermináveis do passado,os tentilhões, as poupas, os noitibós,
crianças cegas e desamparadas
também elas, agora se perderam de nós.
Anjos sonâmbulos pousados no telhado
das noites de insónia (espécie de curvatura
da insónia para dentro de si
sobre paisagens desabitadas).
Onde se refugiará de dia
a sua alada materialidade,
em que desvãos da realidade ou da literatura,
entre restos de coisas li:
Sá de Miranda (caem co'a calma as aves),
Junqueiro (as andorinhas da infância),
e dias errantes, casas vazias,
camiões de mudanças,
remorsos, lentas estações;
e aves, agora como eu
desprovidas de centro e de tempo
agora, como eu, apenas emoções?
Manuel António Pina in Como se Desenha uma Casa
Sem comentários:
Enviar um comentário