19 novembro 2011

Estuário de um Tejo

Sempre que as nuvens passam passa
a memória do silvo dos barcos. Também
golfinhos entre nuvens e dunas de sal,
Tudo o que é visto à beira do estrado
onde estava inanimada a infância.
Peixes de vapor e pássaros pétreos
atrás de cargueiros vindos de uma baía
de liliput. Às vezes chuva imóvel como um
pano sem vento. Ou os poentes verde ma
rinho debaixo de poentes paralelos.

O farol que se tornou apenas um vocá
bulo. Já nem é uma imagem escura - o sinal
das duas faces. Palavra flutuante
sobre o rochedo invisível a meio do rio.
A costa atlãntica depois da boca
e da garganta de água. O contorno
mordido. Marés como um pêndulo.
Aquele nevoeiro transparente que
navega numa taça. O sabor suave do
mar quando se torna gás

expansivo da terra até ao zénite.
Bebida acre como um filtro de circe.
E na outra margem um país profano
com árvores que dão pérolas e arti
ficio. As vozes. Ecos de silêncios.
Silêncio sem sentido. Distância sem dese
jo ou repulsa. O vago. O profun
do. O nunca. Resíduo do fim das
paisagens. Que vão diluir-se eter
namente além da literatura.

Fimam Hasse pais Brandão in Âmago

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