28 outubro 2011

quem poderia esquecer-me?

eu que sempre cantei em surdina,
eu que tudo perdi um dia junto a ti à procura de
um puríssimo coração,
pobre jeremias,

pobre sonhador
dos jardins oblíquos e das flores infantis,
pobre senhor dos anjos demoníacos
que altar algum contemplará.

sim          quem poderá esquecer-me?
eu que que aqui cheguei
depois de todas as veredas que desci como se nada
visse -
e eram tantas           eram tantas-
depois dos mares mais profundos e claros que subi em
pequenos navios sem nome,

oh pobre jeremias

filho da grande noite do medo          da agonia e
das florestas de Ucayali,
quem poderia esquecer-me?

José Agostinho Baptista in Biografia

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