23 novembro 2015

(…) Em poucas horas, cheguei a uma cidade que me faz lembrar sempre um sepulcro caiado. Preconceito, sem dúvida. Não tive dificuldade em encontrar os escritórios da companhia. Eram o que de maior havia na cidade, e todos quanto se cruzavam comigo estavam orgulhosos deles. Iam explorar um império ultramarino e ganhar mundos e fundos com o comércio.

"Uma rua estreita e deserta imersa na sombra escura, edifícios altos, inúmeras janelas com persianas, um silêncio de morte, ervas a despontarem entre as pedras, entradas de carruagens imponentes à direita e à esquerda, portas duplas imensas, sinistramente entreabertas. Esgueirei-me por uma destas aberturas, subi uma escada varrida e nua, árida como um deserto, e abri a primeira porta que encontrei. Duas mulheres, uma gorda e uma magra, estavam sentadas em cadeiras de fundo de palha, tricotando lã preta. A magra levantou-se e avançou na minha direcção - continuando a tricotar de olhos baixos e quando eu já pensava em afastar-me do seu caminho, como se faria com um sonâmbulo, ela parou e levantou o olhar. O vestido era vulgar como o das cobertas de chapéus-de-chuva e deu meia volta sem uma palavra e levou-me até uma sala de espera. Disse-lhe o meu nome e olhei em volta. Uma mesa de pinho ao centro, cadeiras simples a toda a volta das paredes, numa extremidade um grande mapa brilhante, assinalado com todas as cores do arco-íris. O vermelho abundava - sempre agradável de se ver, uma vez que sabemos que ali se trabalha a sério - uma profusão de azul, um pouco de verde, algumas manchas de cor de laranja e, na Costa Oriental, um pedaço roxo, a indicar o sítio onde os alegres pioneiros do progresso bebem uma bela cerveja. (…)

Joseph Conrad in Coração das Trevas

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